Investing Talks
Nome: Rui Bairrada
Idade: 46 anos
País de nascimento: Portugal
Cidade onde reside: Lisboa
Nota Biográfica:
Comecei a minha carreira na banca no Deutsch Bank, em 1995, como estafeta. Saí passado 12 anos, deixando a função de Partnership Banking Coordinator, para criar o meu próprio negócio em finanças pessoais. Em 2014, fundei o Doutor Finanças, uma fintech na área do bem-estar financeiro para ajudar as pessoas a tomar melhores decisões financeiras.
Sou pós-graduado em gestão e liderança pela AESE e aprimorei os meus conhecimentos em liderança na Nova School of Business and Economics.
Comecemos a nossa conversa por conhecer um pouco melhor a história e o percurso do Rui Bairrada: infância, juventude, primeiros passos da carreira profissional, primeiros sonhos…
Fui uma criança feliz. Com uma educação equilibrada, fruto de um pai militar (a minha grande referência) e uma mãe empreendedora e inteiramente dedicada à família, cresci livre para tomar decisões e preparado para as suas consequências, graças aos valores estruturantes que me transmitiram.
Quase a terminar o ensino secundário, tive a minha primeira experiência profissional. Imaginava-me numa mota a distribuir pizzas, mas acabei a confecioná-las. Foi uma experiência curta, mas enriquecedora.
Seguiu-se a grande oportunidade da minha vida profissional: trabalhar na banca. Durante mais de uma década, no Deutsche Bank, em Lisboa, aprendi e cresci muito como homem e como profissional. Sou muito grato.
Aos 30 anos, tornei-me coproprietário de uma empresa. Mais tarde, abri a minha primeira empresa, especializada em negociação e renegociação de créditos. Seguiu-se uma nova aposta e desta segunda empresa nasceu o Doutor Finanças.
Como nasceu o Doutor Finanças?
O Doutor Finanças nasceu em 2014. Este projeto bebeu, desde logo, do espírito de missão da empresa que então detinha. O nosso foco já era ajudar os portugueses a tomar melhores decisões financeiras. Sobretudo, os que estavam a enfrentar os piores efeitos da crise económica.
Através das empresas, preocupadas com o esforço financeiro de alguns dos seus colaboradores (a par da escassa literacia financeira da maioria), organizámos workshops de finanças pessoais e ajudámos a encontrar soluções, nomeadamente ao nível dos créditos.
Percebi então que este projeto podia ganhar asas. E em conjunto com um grupo de pessoas que já estava comigo nessa empresa, começou a aventura de “fazer o bem, bem feito”.
“A internacionalização faz parte dos nossos planos, queremos concretizá-la até 2025!”
Como avalia a evolução do mercado imobiliário nos últimos anos? Quais são os principais fatores que têm impulsionado essa evolução? Como impacta no vosso negócio?
O mercado imobiliário tem tido um grande dinamismo, fomentado pelo período de juros historicamente baixos e por uma maior procura por parte das famílias, muito impulsionada pela pandemia. O aumento da procura por parte de estrangeiros e o crescimento do turismo também contribuíram para um maior dinamismo do mercado.
Além destes fatores, a construção de nova habitação foi diminuta, face à procura.
No último ano e meio, a subida dos juros trouxe uma realidade diferente. As famílias estão agora mais focadas em reduzir encargos, renegociando condições de financiamento.
Esta mudança impacta, sobretudo, no tipo de preocupações dos nossos clientes. Passámos a fazer mais transferências de crédito, quando em 2022 fazíamos mais financiamento para aquisição.
Quais são os tipos de financiamento relativos a investimentos imobiliários mais populares, entre os investidores vossos clientes, atualmente? Isso mudou ao longo do tempo?
A maioria dos nossos clientes pede financiamento para comprar casa própria. Até há um ano e meio, a maioria dos clientes preferia contratar um crédito com taxa Euribor.
Atualmente, muitos procuram alternativas. A taxa mista tem sido muito procurada, porque confere estabilidade durante uns anos.
Um dos desafios comuns no setor imobiliário é o financiamento. Quais são as principais dificuldades que os investidores enfrentam ao procurar financiamento para projetos imobiliários? O que aconselharia a quem está a enfrentar essas dificuldades?
As principais dificuldades estão relacionadas com o valor de capitais próprios. Os bancos não financiam a compra de um imóvel a 100%. No máximo, emprestam 90%, o que implica ter 10% do valor do imóvel, mais o valor correspondente a impostos e despesas associadas.
A única forma de garantir tranquilidade é assegurar que há poupanças. E aqui o conselho é que comecem a constituí-las o mais cedo possível.
O mercado imobiliário, muitas vezes, está sujeito a ciclos económicos. Como é que os investidores se podem preparar para lidar com possíveis flutuações no mercado? Quais são as estratégias que podem ser adotadas para mitigar riscos nesse cenário?
Depende do tipo de investimento. Se estivermos a pensar na compra de um imóvel para habitação, as maiores preocupações devem estar relacionadas com a resposta do imóvel às nossas necessidades (dimensão/divisões e localização). É importante ter presente que, mesmo que haja alguma quebra nos preços, a seu tempo o mercado acaba por recuperar.
Se for um investimento financeiro, é preciso ter consciência exata do que estamos a fazer. O mercado imobiliário é, por regra, menos volátil e tem menos liquidez que um mercado bolsista, por exemplo. É determinante perceber que vai demorar mais tempo a recuperar o investimento.
Além disso, investir com recurso ao crédito pode ser um risco acrescido. O momento que vivemos espelha bem os riscos.
Qual é a sua visão para o futuro do setor imobiliário?
Acredito que estamos a passar por um período de rutura e que vamos assistir a algumas alterações. Não consigo antever se o momento que vivemos, de perda de poder de compra e taxas de juro mais altas, vai provocar alguma descida dos preços dos imóveis. Mas, tendo em consideração a escassa oferta, mesmo que se assista a alguma redução, esta será transitória.
Por outro lado, também acredito que não será possível, nem sustentável, continuarmos a assistir a aumentos de preços de dois dígitos.
Como descreveria a missão do Doutor Finanças como empresa de apoio ao financiamento e qual a visão da empresa para os próximos anos?
O apoio que prestamos tem duas frentes distintas: a literacia financeira e a intermediação.
No universo de literacia financeira, publicamos diariamente artigos no nosso Portal e disponibilizamos gratuitamente ferramentas, como calculadoras e simuladores. Publicámos em 2022 um livro (Ganhar, Poupar, Investir), e, através da Academia Doutor Finanças, damos formação sobre os mais diversos assuntos financeiros.
Na intermediação, apoiados numa rede vasta de parceiros, trabalhamos afincadamente para encontrar as melhores propostas no crédito habitação, consolidado, pessoal, seguros ou energia.
Nos próximos anos, vamos continuar a entregar com celeridade e a acrescentar valor a quem nos procura.
Quais são os principais desafios que o Doutor Finanças enfrenta?
Diante do aumento significativo dos processos de transferência de crédito habitação, os nossos desafios passam por estar à altura desta procura, encontrando as melhores propostas junto dos nossos parceiros, mantendo também a qualidade da nossa resposta nas aquisições.
Parece-lhe que o pacote Mais Habitação recentemente aprovado na AR trará resultados a curto, médio e longo prazo?
O pacote terá algum impacto, mas não chegará para resolver o problema da habitação em Portugal. Para que estas ou outras medidas surtam, efetivamente, efeito é preciso reunir esforços. Estes esforços começam no Governo, passam pelos reguladores e pela banca e ainda pelos proprietários e construtores.
Urge pensar num enquadramento fiscal no arrendamento, que torne efetivamente atrativo para os proprietários, precisamos de flexibilizar um pouco as regras de financiamento e garantir mais construção. Só com mais oferta teremos preços mais equilibrados.
O Doutor Finanças tem presença noutros mercados para além do português?
A internacionalização faz parte dos nossos planos, queremos concretizá-la até 2025, mas estamos em fase de análise de possíveis mercados.
Quais são os planos futuros do Doutor Finanças para expandir os seus serviços ou explorar novas oportunidades no mercado?
Este ano fica marcado pela aposta na expansão da Rede de Intermediários de Crédito Doutor Finanças. Com um crescimento assinalável, esta Rede conta já com mais de 40 franchisados, de norte a sul do país.
Este reforço da nossa presença física responde ao desejo de nos tornarmos o maior intermediário de crédito nacional (sendo que já somos o maior intermediário de crédito digital).
Os próximos anos vão ser, essencialmente, de consolidação do que temos vindo a fazer no digital e, agora, no local. Pretendemos também consolidar a nossa posição enquanto maior referência da literacia financeira em Portugal.
Quais são seus planos de longo prazo para sua carreira? Vê-se neste projeto por largos anos? Considera este contexto de constante incerteza como um problema ou uma oportunidade?
Com 46 anos, não me imagino a reformar-me. Até porque estou completamente apaixonado por este projeto, que ajudei a fundar. Quero continuar a contribuir para o crescimento do Doutor Finanças. Talvez quando chegar aos 50 anos comece a questionar sobre o que vou fazer.
Quanto à outra questão, quem me conhece sabe que vejo o copo sempre meio cheio. Por isso, vejo em tudo uma oportunidade. Em momentos de incerteza, como o que atravessamos agora, também existem oportunidades.
Qual foi o projeto mais desafiador em que já trabalhou e porquê? Quer partilhar algum aspeto específico desse desafio?
Ao longo deste meu percurso de empreendedorismo, encontrei alguns desafios. E estes prendem-se sempre com pessoas. O momento mais desafiante que vivi foi quando decidi continuar o meu caminho e romper com os sócios que tinha. Percebi que tínhamos visões diferentes e que íamos seguir caminhos distintos. Foram tempos muito desafiantes porque sou muito apegado às pessoas.
Hoje, sinto-me grato. Ao olhar para trás, é possível perceber que há um Doutor Finanças antes, e um outro depois desta decisão. O empreendedorismo é isto mesmo: ir sofrendo alterações ao longo do caminho. Nada é estanque.
Quer deixar alguma mensagem para os stakeholders do setor imobiliário?
Deixo uma mensagem de esperança. Sozinhos não vamos a lado nenhum, mas se formos juntos e nos apoiarmos, vamos bem longe. Na verdade, acabamos por trabalhar o mesmo universo de pessoas e, por isso, se estivermos alinhados e a querer “fazer o bem, bem feito”, podemos ajudar Portugal a ser, cada vez mais, um país melhor para viver, trabalhar e empreender.